terça-feira, 27 de setembro de 2011

CENA MARADA

Há dias perguntaram-me qual foi a cena mais marada que me aconteceu em 8 anos de blogaria. Ora, de muitas cenas maradas que já me aconteceram, uma das mais maradas foi esta que passo a relatar esperando não vir a ferir os bons sentimentos dos visados. Afinal, já passaram mais de 5 anos e nada disto tem qualquer relevância. No dia 14 de Março de 2006, publiquei no Insónia um post, entretanto importado para aqui, sobre o filme Coisa Ruim. Na caixa de comentários ao dito, à 13:44, apareceu-me isto:

Anonymous said...
Desconhecia que o "sucesso" do filme estava associado ao meu nome. Escapa-me a lógica da coisa. Quanto à banalidade do argumento, seria interessante perceber o que se espera do Cinema e o que entendemos como banal. Porque, a querermos esgravatar e bater, até o argumento de Citizen Kane pode ser resumido de forma banal: ascensão e queda de um homem poderoso. What´s new? E o Padrinho? Uma família que mata uns tipos e tem medo que matem os seus? E Straight Story, de Lynch? Um velho decide visitar o irmão que está a morrer? Big deal. Temos, de facto, entendimentos muito diferentes do cinema. Parece-me que, no seu caso, está ainda na fase do "twist". Enfim, pano para mangas. Mas felicito-o pela sua"crítica" ao filme, com espantoso e rebuscado ensaio sobre o medo. Estou esmagado. Neste país, toda a gente sabe como se faz. E no entanto, continua a haver mais artistas do que obras de arte.
Atentamente, Rodrigo Guedes de Carvalho


Às 14:06 eu respondi:

Eu não sei como se faz, nem quero saber. Limito-me, enquanto espectador, a pensar alto sobre aquilo que vou vendo. Os weblogs dão-nos, a nós espectadores, essa possibilidade. Isto não é nem tem a pretensão de ser uma “crítica”, ainda que entre aspas. Isto é um post, se quiser pode entendê-lo como uma entrada num diário online. Só isso, nada mais. Um espectador a pensar alto sobre o que viu. Nesse sentido, interessa-me muito mais a questão do medo. Sou professor de Filosofia, não sou crítico de cinema. Interessam-me mais as questões “metafísicas”. Quanto ao sucesso do filme: tem dúvidas que assim seja, tem dúvidas que de outra forma o filme não teria tanto tempo de antena nos media? Não tenha, nem se sinta incomodado por isso. Assim se vai aguentando… o país e o mundo.
Atentamente, Henrique Manuel Bento Fialho

P.S.: Ainda quanto ao sucesso do filme - eu escrevi «parte do sucesso do filme» e não «o sucesso do filme». Qual a diferença? Seria bom não tomar o todo pelas partes. E, já agora, as partes pelo todo
.

Este comentário mereceu ainda a seguinte réplica às 15:39:

Caro Bento Fialho: Como Professor de Filosofia, saberá dar o devido valor aos não-ditos. Saber que os silêncios pesam tanto como as palavras. Registo, a propósito, que na sua ofendida resposta já não vem com a conversa do "banal". Quanto às suas certezas de "sucessos a reboque do mediatismo", o senhor é apenas mais um. Há os que tomam partes por todos, como diz, e há os que tomam certezas por palpites. Não sei o que entende por "sucesso". Público? Saberá mais do que eu, que não tenho números de bilheteira. Crítica? Acho curioso então o seu atestado de incompetência à esmagadora maioria dos críticos. Será que, coitados, condescenderam a dizer bem do filme por causa do meu nome? É pena que não perceba que isto da figura pública tem sempre duas faces. E talvez nem sonhe que a mais visível é a que você demonstra: o preconceito pobrezinho de achar que quem aparece na TV não sabe escrever. Quanto à divulgação nos media, jornais, rádio ou TV, se se desse ao trabalho de comparar número e destaque de notícias entre Alice, O Fatalista, Coisa Ruim e agora o Espelho Mágico, veria que não sabe, afinal, do que está a falar. Com uma agravante que parece escapar-lhe: no que respeita a Informação diária, o Coisa Ruim foi absolutamente escondido na RTP e TVI, pelas razões que se imagina...Quanto ao destaque dado pela SIC, lembro-lhe que a SIC foi Televisão Oficial do Fantasporto. Se não falasse do evento, se não lembrasse o facto inédito de um filme português estar a abrir o Festival, isso seria apenas mau jornalismo.
Ah, isto só foi em anonymous porque não percebo nada de blogs e de outra forma pede-me um register ou não sei quê e não estava a entender nada. Mas assino-me, obviamente, que só gosto de coisas às claras.
Rodrigo Guedes de Carvalho


A minha estupefacção aumentava, e às 17:27 pude responder:

Caro Anonymous,
1.º: O meu ganha-pão não é escrever posts, muito menos responder minuciosamente aos comentários que vão caindo nesses mesmos posts;
2.º Você acha mesmo que foi uma ofendida resposta? Amanse-se, homem! Se aquilo foi uma ofendida resposta, o que será uma resposta ofendida?
3.º Deixei a conversa do banal de lado, porque o seu comentário suscitou um assunto que me apetece desenvolver em post. Não tenha pressa.
4.º Quanto ao sucesso, há duas questões: a) parte do sucesso deve-se, naturalmente, ao facto do autor do argumento ser uma figura pública. Assim não fosse e ninguém ligaria “puto” ao argumentista, como acontece na maioria dos filmes (nacionais e não só). Digamos que neste caso, vossemecê – confiando que vossemecê é mesmo vossemecê - está a cumprir o papel da vedeta que falta ao filme. Não tem mal algum nisso. Na máquina promotora do filme, vossemecê é, digamos assim, a BB do Coisa Ruim; b) o que entendo por sucesso? Certamente o que vossemecê entenderá: a aderência do público (incluindo críticos, que não deixam de ser público). E olhe que estes, ao contrário do que vossemecê diz, nem foram muito benevolentes. Vossemecê se calhar não sabe e não liga, mas a sua maioria é diferente da minha. Vejamos a maioria do Actual: há um que resume a coisa às 3 estrelinhas, os restantes três atribuem todos 2 estrelinhas (vai-me desculpar, mas nos jornais eu só leio as estrelinhas); no 6.ª a coisa é confrangedora: 2 dos avisados críticos dão 3 estrelinhas e o outro, de seu nome João Lopes, fica-se por 1 estrelinha. Que diabo! Anda para aqui um gajo a passar atestados de incompetência a maiorias relativas e depois dá nisto!
5.º Vossemecê fala de um «preconceito pobrezinho de achar que quem aparece na TV não sabe escrever». Certamente não se referirá a mim, pois não? Eu, sinceramente, acho que o preconceito, senão a paranóia, é sua. Vossemecê não sabe com quem está a falar e vem para aqui lançar umas postas de pescada insinuando preconceitos a quem desconhece por completo. Não é justo. Mas eu é que não sei do que estou a falar.
Por aqui me fico, desejando-lhe o maior sucesso e, veja bem, confessando-me seu admirador de todas as 20:00…
Saúde,


Às 18:04 o comentador de serviço insistiu:

Estava visto que tínhamos de chegar aqui. Ao vossemecê, à BB, ao amanse-se. À distância de um blog, toda a gente enche o peito, é espigadota e estica o dedo. E, sobretudo, assim se prova que a malta da blogosfera muito gosta de malhar e pouco de ser malhada. Compreende-se. Se ninguém liga puto ao argumentista é porque, caso não tenha reparado, quase nunca há argumentista. O próprio realizador, regra geral, fez uma adaptação de um textinho qualquer, romance antigo ou poema obscuro. Quanto ao João Lopes, há histórias que desconhece e não vou estar aqui a explicar-lhe o que são quezílias de capelinha. Mas a última coisa que quero dizer-lhe é que aproveitei estar por aqui e dei uma voltinha pelos textos e afins. Meu Deus. Com 31 anos e um canudo de Filosofia "a gente" está sempre cheia de certezas. Isso passa. Ah, embora não seja douto filósofo, algo me diz que "aderência" é mais para pneus. E ler críticas não é, de facto, ler estrelinhas. É assim, como dizer, ler uma boa BD só a olhar para os bonecos. Por mim, adeus a esta palhaçada aos olhos dos seus admiráveis leitores. Para mais alguma coisa, e para que não lhe restem dúvidas, envie para xxxxxx@.pt. Se me vai dar mais bicadas, faça-me, por favor, um forward. E creia-me: isto sou eu amansado.

O meu último comentário foi às 19:07:

«assim se prova que a malta da blogosfera muito gosta de malhar e pouco de ser malhada.»

Meu caro, sou eu que estou a delirar ou foi vossemecê que veio para aqui malhar?



Entretanto, o diálogo não se ficou por aqui. Se tivesse ficado não tinha piada. Na caixa de e-mail recebo a seguinte mensagem:

Exmo. Senhor.

Temos aqui uma grande confusão. Vamos ver se consigo explicar-lhe.

- A Produtora Madragoa Filmes, através do seu departamento de Marketing e Promoção, tem por hábito enviar-me tudo o que é referência ao filme Coisa Ruim, blogosfera incluída. Recebo assim, há minutos, a parafernália que já vai no seu blog, com a pergunta: O que é isto, Rodrigo?!
Excelente pergunta. Só tenho uma explicação. A redacção SIC (que não sei se conhece) é um imenso “open space”. E na redacção da SIC, para além de muitas dezenas de verdadeiros amigos e colegas, tenho alguns “anti-corpos”. Penso que infelizmente acontecerá em muitos locais de trabalho.
- Cheguei hoje à SIC por volta das 11.30, a minha hora habitual. Abri o computador, como sempre faço, comecei a trabalhar, e tive depois de sair para um almoço que se prolongou da parte da tarde (preparamos a Operação Mundial 2006). Pequeno pormenor: não desliguei o computador.
- Regressei à Redacção há cerca de 45 minutos e tinha esta desagradável surpresa. Há, aliás, um pormenor pérfido nas mensagens que trocaram consigo. Dão-lhe exactamente o meu e-mail, talvez à espera que eu recebesse insultos sem perceber porquê
. - Resta-me pedir-lhe desculpa por todo este desagradável episódio. Bem sei que não me conhece, mas garanto-lhe que seria incapaz deste tipo de comentários a comentários ou posts, espaços livres por definição para as mais diversas opiniões. Demonstraria falta de maturidade e poder de encaixe, duas características de que me orgulho.
Apesar de não ter responsabilidade no sucedido, aceite as desculpas do

Rodrigo Guedes de Carvalho (agora sim)


A este e-mail respondi eu às 20:06:

Bem,
Para mim isto é tudo incompreensível. Na volta, o Coisa Ruim anda mesmo a atacar aí pela redacção da SIC. Como estou muito cansado, vou limitar-me a perguntar-lhe se quer que apague os comentários, publique esta nota explicativa ou outra coisa qualquer.
Saúde,
Henrique Manuel Bento Fialho


Até que, por fim, o Rodrigo Guedes Carvalho rematou:

Isto de estar a fazer o Jornal da Noite e responder a mail é complicado…
Sim, acredito que possa parecer incompreensível. Entendo a ironia, mas olhe que não há nada mais fácil. Basta vontade e trama-se qualquer colega. Teria dezenas de histórias (com as quais obviamente não o vou maçar)
Deixo totalmente ao seu critério, mas acredite que não é muito agradável a ideia que fica de mim…

E obrigado pela resposta Rodrigo GC

PS - deixo-lhe inclusivamente o meu móvel 9********. Disponha



Nunca dispus e acabei por apagar os comentários. Depois fui ver o Jornal da Noite, a pensar em “pequenos pormenores”. Hoje estou a caminho dos 37 anos, já não sou professor de filosofia, mas estou como outro, “bem ca puta da vida. Obrigado pelos cuidados ;)”.

2 comentários:

margarete disse...

ha!
ia lendo o post e pensava "épá, isto é um testamento e eu agora tenho mais que fazer..." mas continuei e deu para ficar com um sorriso na cara

o dia em que fiquei fona do RGC,
há uns anos, sobre as mães de Bragança:
ele noticia o fim das putas acabando a notícia com "agora as mães de Bragança dormem mais descansadas", mas não resistiu a este final, olhou a câmara de frente e rematou "e ainda há quem acredite no pai natal"

suchar disse...

és um especialista em divulgar mensagens privadas
tens que ir buscar as antigas porque o almeida já não consegue arrancar nenhumas a quem tu lhe mandas
estás com azar, foste catado, tens que arranjar outro serviçal