Foucault é um animal bonito, um raro exemplar
humano miraculosamente saído da sopa humana que por vezes mais parece uma
lavagem de porcos. Admiro-o pela coragem de pensar até àquele limiar em que a
metafísica e a fome, a ética e a necessidade, se confundem, deixando perdidos
os que ainda precisam dos absolutos que a nossa história produziu: deus,
políticos, moral de picha-mole. Estou a simplificar, claro, porque não existe
sujeito sem poder, e daí a observação de Foucault relativamente à crença de
Chomsky quanto à possibilidade ou obrigação de pensarmos uma sociedade futura
justa: não podemos pensar uma sociedade futura justa porque se o fizéssemos
estaríamos a fazê-lo com os conceitos de justiça (e outros) que temos e que são
o resultado de um jogo de poder de que nos adveio uma subjectividade particular
e historicamente determinada [mas podemos resistir ao poder]. Este breve (mas
elucidativo) excerto do debate com Chomsky dá pra ver a distância a que Foucault
deixa o seu interlocutor, um moço americano simpático, culto, bem-intencionado
e ingénuo, à procura de universais e
da natureza humana.
1 comentário:
tás a ver, és uma sortuda ;)
Enviar um comentário