Eles apostam na vida em diferido, porque o momento
só existe enquanto arquivo que se
pode salvar. A palavra é adequada – salvar – e se eles estão em todos os
lugares é porque querem preservar o mundo que nos desaparece, pôr o que ainda vemos a salvo de nós. Num lugar
seguro – sem fotógrafos e sem ninguém –, as imagens começarão outro universo, quase
saudosas da sua humana origem. Os fotógrafos não são maus mas também não são
bons. São como sacos de plástico que trazemos cheios de compras quando vamos ao
supermercado. A essência dos sacos é ser continente, ou seja, o seu conteúdo
nunca é próprio ou íntimo, eles servem para conter
outras coisas. Os fotógrafos enchem-se de coisas que não são eles nem a sua vida
só para um dia, quando esta merda toda se transformar num esgoto fervente, poderem mandar para outro universo as fotografias todas que tiraram durante estes
anos de intensa actividade. Deixemo-los fazerem o seu trabalho, praticarem a
sua crença. Qualquer coisa é fotografável, e na verdade todos merecemos a
salvação.
Sem comentários:
Enviar um comentário