quarta-feira, 23 de novembro de 2011

OS FOTÓGRAFOS



Eles apostam na vida em diferido, porque o momento só existe enquanto arquivo que se pode salvar. A palavra é adequada – salvar – e se eles estão em todos os lugares é porque querem preservar o mundo que nos desaparece, pôr o que ainda vemos a salvo de nós. Num lugar seguro – sem fotógrafos e sem ninguém –, as imagens começarão outro universo, quase saudosas da sua humana origem. Os fotógrafos não são maus mas também não são bons. São como sacos de plástico que trazemos cheios de compras quando vamos ao supermercado. A essência dos sacos é ser continente, ou seja, o seu conteúdo nunca é próprio ou íntimo, eles servem para conter outras coisas. Os fotógrafos enchem-se de coisas que não são eles nem a sua vida só para um dia, quando esta merda toda se transformar num esgoto fervente, poderem mandar para outro universo as fotografias todas que tiraram durante estes anos de intensa actividade. Deixemo-los fazerem o seu trabalho, praticarem a sua crença. Qualquer coisa é fotografável, e na verdade todos merecemos a salvação.

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