A verdade é que uma
boa mentira faz bem a toda a gente. Se eu lhe disser tudo o que sei, além de
deixar de acreditar em mim, vai transformar-me num deus ainda mais pequeno,
daqueles que têm medo de um dia enfraquecer. Em termos simples: não convém
abrir a boca. Não falarás de Curitiba, da forma como um dia te perdeste nessa
cidade fundada em 1693 a partir de um pequeno povoado bandeirante. Não saberás
que a cidade se tornou uma importante parada comercial com a abertura da
estrada tropeira entre Sorocaba e Viamão. Não. O joelho dela continua
enfraquecido, subiu a uma alta torre e ficou perdida, olhando o mar, o passado,
tudo o que ainda não perdeu. Trata-se da quinta maior economia do Brasil – o
joelho dela aproxima-se do chão, acabou de descalçar os sapatos – e conta com
diversas inovações urbanísticas: o seu sistema de transportes públicos inspirou
o Transmilenio da cidade de Bogotá, na Colômbia.
Está descalça agora,
com os pés sujos, a boca levemente indignada, o que me faz sorrir,
disfarçadamente, como um menino tímido à procura de tudo o que merece. Não
posso continuar assim e é preciso fazer alguma coisa. A hipótese mais
popular para a origem do nome da cidade é a de que este derivaria da expressão
indígena "curi'i ty(b) ba", que em língua guarani significa
"muito pinhão”. Isto faz algum sentido? – pensa, os joelhos no chão, a
boca, os seios esfregando o pó. Não te vou responder. A uma cidade nunca se
responde. Dorme, acorda, dorme outra vez. Não invocarás em vão o meu nome,
puta, até eu chegar.
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