[LÍRICO] Não me falta deus no teu corpo sarado, nem no
verão em que ele se perdoa. Não me falta deus na distância entre um campo e o
motor da saudade, com os seus olhos e as suas asas e um ventre negro como a
morte. Não sou exactamente humano, não me falta deus, não sou exactamente
humano. [MENOS LÍRICO] Escuto uma canção simples, brega, diz-se, misturado com
pop. Gosto de coisas misturadas, exerço a minha terrível sina: dou-te calor, um
calor frio como o aço, examino com requinte o teu comportamento até cair
inconsciente, contigo, num poço com muitas voltas antes do fim. [VISÃO] É
noite, alguma coisa move-se, uma primeira coisa, feita de nós, uma coisa
misturada, merda e suplícios e um pouco de calor, madrugada-quase: trazem-nos
um termómetro para eu medir a temperatura do teu cabelo. [BUROCRACIA] Afasto
esse mensageiro da Cidade. Antes de o matar, pago-lhe o almoço. Quase sinto
pena, parecia feliz, um animal pequeno no estrito cumprimento do dever.
Deixo-o. Volto-me para ti. Arranco o prego do coração e atiro-o para dentro de
um cão. [MUSIC TIME, UNENDING] Sei tocar piano mas não tenho um piano aqui. É
uma canção e eu não sei o que vai acontecer a seguir.
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