A Lapa é o país dos travecos (travestis).
Alguns são mais femininos que as minhas ex-colegas da faculdade de direito. Têm
os pés um pouco grandes, mas quando não têm chegam a ser mais perfeitos que a
Marisa, uma ex-colega minha de direito que tinha os pés grandes. A Marisa tinha
tudo pequeno (a boca, as maminhas, o cabelo), excepto os pés. Não podia usar
sapatos de tacão porque não os encontrava à sua medida. Simpatizo muito com os
travecos da Lapa. São estrangeiros como eu. Talvez um pouco mais, porque eu
vivo num território estranho e no caso deles esse território é o corpo. Por
outro lado, às vezes a vida deles é mais fácil que a minha, porque eles sempre
podem tentar modificar o seu território, ao passo que o Brasil é um corpo
demasiado grande e insondável para que eu pense sequer em mudar de sexo.
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