quinta-feira, 6 de outubro de 2011

"DHARMA", BILLY COLLINS


DHARMA
A maneira como a cadela saltita pela porta fora
todas as manhãs
sem um chapéu na cabeça ou um guarda-chuva,
sem dinheiro
ou as chaves da sua casota
nunca deixando de encher o prato do meu coração
com admiração clara como o leite.
Quem dá melhor exemplo
de vida sem obrigações?
Thoreau na sua barraca sem cortinas
com apenas um prato, uma colher?
Gandhi com os seus assistentes e as suas fraldas?
Lá vai ela em direcção ao mundo material
com o seu casaco castanho
e o modesto colarinho azul,
seguindo apenas o seu nariz húmido,
as portas gémeas da sua firme respiração,
seguida apenas pela pluma da cauda.
Se ela não empurrasse o gato para o lado
a cada manhã
e não comesse a comida dele
que modelo de auto-contenção não seria,
que ideal de desapego mundano.
Se ela não fosse sempre tão carente
de uma festa atrás das orelhas,
tão acrobática nas suas boas-vindas,
se somente eu não fosse o seu deus. 

Billy Collins
(mudado para português por rui costa)

2 comentários:

margarete disse...

"mudado para português" ora, aí está uma expressão honesta!

(acho que nunca conseguirei aceitar a associação do conceito "tradução" à poesia)

Anónimo disse...

talvez devesse postar o original, pra se ver as "mudanças" ;)