Voltei a escrever textos que, sendo ficção, acabam por
ser motivados pelas disposições que
atravesso. São textos de ficção, disse, o que significa que podem ou não
“falar” de situações reais. Mas isto de “situações reais” é complicativo,
também já sabemos, porque muitas vezes um texto que leio ou uma música que ouço
parecem-me mais reais que as pessoas que almoçam ao meu lado em King’s Cross,
Londres, todas as quartas-feiras. No fundo, é preciso ser imune a muito lixo
que circula à nossa volta, seja em que país for. Desde as bactérias até aos
planetas dourados, tudo se move em função dos seus interesses. A uma bactéria
pode interessar foder o fígado de uma pessoa que nem bebe whisky, e a um
planeta pode interessar influenciar o campo magnético de um corpo celeste simpático,
numa sexta-feira à noite, depois de os bares siderais fecharem.
Hoje, desconfio de toda a gente. O mesmo é dizer, acredito
em toda a gente. Ou seja: se pretendo evitar uma pessoa ou me sinto atraído por
ela, passo algum tempo a analisar os seus interesses. Todas as pessoas
encontram uma razão metafísica para justificarem as suas escolhas. As escolhas
das pessoas parecem-me sempre muito parciais e localizadas. Por exemplo: partilhas
a casa com um vegetariano e ele explica-te a razão que o leva a não sacrificar
animais. Mas depois de comer as suas couves e cenouras, essa pessoa vai lavar a
roupa na máquina, o que faz duas ou três vezes por semana, usando três ou
quatro vezes mais água e electricidade do que tu, que ainda vais comendo o teu
franguito e o belo atum. Então a água merece menos protecção do que a galinha?
E a luz – ou a forma como ela se obtém - não precisa de ser “salva” tanto
quanto o peixe?
Quanto às regras da atracção entre seres humanos, bem,
até os cegos vêem. Digam-me quantas moças bonitas e inteligentes vão curtir o
próximo fim-de-semana com moços pobres e aleijadinhos, ou vice-versa. Sim, no
mundo inteiro, no próximo fim-de-semana. Zero? Só? Ah, parece que existe UMA
chinesa que gosta de…
Veja-se esta conversa, e as verdadeiras razões entre
parêntesis:
Maria – Já saí muito, agora não tenho paciência [ninguém me convida]
Mauro – Eu também não, acho que perdi a motivação [perdeu foi o cabelo]
Maria – E é sempre a mesma conversa, os homens são muitos
infantis, só pensam em sexo [só pensam em sexo com as outras, as popozudas de vinte anos]
Mauro – Uma pessoa com a idade começa a dar valor a
outras coisas [aos medicamentos para o reumatismo, por exemplo]
Maria – Sim, há a beleza interior [és um bocado lerdo,
não és?]
Mauro – Claro, claro…[beleza interior?
posso mostrar-te o meu fígado, ou o pâncreas, pra ver qual é que achas mais
bonito]
Maria – E você tá a
fim de sair hoje? [e se te deixasses de conversas e me fodesses como se não
houvesse amanhã?]
Pronto, era isto. E não se esqueçam do título.
8 comentários:
popozuda. põe no youtube e podes VER.
Rui, o título que está parece-me bem.
não consigo pensar num título para o post. mas me ponho a refletir sobre o que ele encerra.
popozuda é uma mulher de nádegas avantajada pelo exercício físico. No Brasil elas fazem muito sucesso.
Politicamente correto é ser vegetariano, pró-animais e discreto. As popozudas contribuem pra perpetuar a espécie sem tanto esforço: comem folhas e animais (todos eles) e fazem bom uso da água, pois as roupas e calcinhas são sempre bem pequeninas!
luis: "o título que está parece-me bem" é uma excelente sugestão pra título, obrigado ;)
rogério: obrigado pela "assistência técnica". uma popozuda é uma popozuda.
nique: as popozudas são ecológicas, e parcialmente discretas: olha-se menos para a cara delas!
fernando: a waleska popozuda é nice.
A ecologia, os atuns e outros amores.
o título.
é um bom título. dará novo post, de certeza
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